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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

ESTRESSE E SAÚDE

Cláudio Garcia Capitão, Carolina Lucena Torres e Renata Estanislau Silva


Estresse e Saúde: definição e tratamento





Resumo

O objetivo do presente trabalho foi o de conceituar o estresse e caracterizar o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e as suas principais formas de tratamento, ou seja, a farmacoterapia e a psicoterapia. O estresse é a resposta fisiológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para se adaptar e ajustar-se a estímulos internos e externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em fase de esgotamento. O tratamento medicamentoso e psicoterápico são indicados para a diminuição da intensidade dos sintomas e do sofrimento do indivíduo.

Palavras-chave: Estresse; Psicoterapia; Transtorno; Trauma.



Abstract

The aim of this study was to conceptualize and characterize the stress Posttraumatic Stress Disorder and its main forms of treatment, that is to say, pharmacotherapy and psychotherapy. Stress is the physiological response and behavior of an individual who struggles to adapt and adjust to internal and external stimuli. As the energy required for this adaptation is limited, if there is persistence of the stressor stimulus, sooner or later the body enters a phase of exhaustion Drug treatment and psychotherapy are indicated for reducing the intensity of symptoms and suffering of the person.

Keywords: Stress; Psychotherapy; Disorder; Trauma.



Atualmente o tema estresse tornou-se um assunto cada vez mais pesquisado e estudado por diversas áreas da saúde, devido a sua considerável ocorrência na população. Estresse (stress, em inglês) significa "estar sob pressão" ou ainda “ficar sob a ação de estímulo persistente", ou seja, na realidade, estar estressado significa um conjunto de alterações acontecidas num organismo em respostas a um determinado estímulo, capaz de gerar tensão e não apenas de estar em contato com algum estímulo. Sem esse tal "conjunto de alterações" não se pode falar em estresse. O estresse é o processo pelo qual cada indivíduo avalia e lida com os desafios, ameaças e realizações diárias do ambiente (Myers, 1999).

Em termos científicos, o estresse é a resposta fisiológica e de comportamento de um indivíduo que se esforça para se adaptar e ajustar-se a estímulos internos e externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em fase de esgotamento (Ballone, 2005).

Cada pessoa reage de forma diferente aos estímulos da vida, desta forma elas também terão limiares diferentes de esgotamento por estresse. As reações de estresse podem ser mais ou menos favorecidas segundo a visão que cada indivíduo tem da realidade, da valorização do passado ou das perspectivas do futuro. Uma representação pessimista da realidade pode favorecer estas reações, enquanto a representação positiva pode amenizar os efeitos estressores (Ballone, 2005).

O estresse é um dos fenômenos mais estudados atualmente, pois envolve a relação entre os aspectos psicológicos, biológicos e sociais. O estresse pode ser considerado um fenômeno resultante da interação entre os aspectos físicos e psicológicos. Selye (1974, 1976), ao explicar a teoria do estresse, refere-se à Síndrome Geral de Adaptação (SGA) como um processo essencial à vida, uma resposta não específica a um estímulo, que inclui as fases de alarme, resistência e esgotamento. O restabelecimento do equilíbrio depende da relação das fases e intensidade dos estímulos, podendo ou não causar danos à saúde (Ribeiro, 1998). Quando o organismo consegue se adaptar e resistir ao estressor, o processo de estresse se interrompe, e não traz prejuízo à saúde do indivíduo. No entanto, se isso não ocorre, ele avança para fases mais severas e pode comprometer a habilidade do corpo permanecer em homeostase (Baum & Poluszny, 1999).

O estresse elevado pode contribuir para o aumento na pressão arterial e batimentos cardíacos, e está associado a mudanças hematológicas que podem contribuir diretamente para doenças cardíacas e hipertensão, como fator de risco ou desencadeador cardíacos ( Santagostinho, Amoretti, Frattini, Zerbi & Cucchi, 1996; Krantz & Manuck, 1984). O sistema imunológico por meio de uma série de caminhos neurais e hormonais está também relacionado ao estresse, que provoca modificações significativas na variação de neurosubstâncias e consequentemente das reações emocionais e cognitivas (Besedovsky & del Rey, 1991; Maier & Watkins, 1998). Tais mudanças no sistema imunológico podem ser suficientes para aumentar a vulnerabilidade às infecções ou doenças e estão implicadas na etiologia e progressão de infecções virais, cicatrização de ferimentos, câncer e doença por HIV (Andersen, Kiecolt-Glaser, Glaser, 1994; Baum & Nesselhof, 1988; Cohen & Williamson, 1991; Kiecolt-Glasser, Stephens, Lipetz, Speicher, Glaser, 1985).

Uma "dose baixa" de estresse é normal, fisiológico e ainda desejável, pois se trata de uma ocorrência indispensável para nossa saúde e capacidade de produzir. As características desse estresse que podemos chamar de positivo são: aumento da vitalidade, manutenção do entusiasmo, do otimismo, da disposição física, interesse, etc. Por outro lado, o estresse exagerado e considerado patológico pode ter conseqüências mais danosas, como por exemplo, o cansaço, irritabilidade, falta de concentração, pessimismo, queda da resistência imunológica, mau-humor e até desenvolver um quadro depressivo, este que surge como uma conseqüência direta dos persistentes esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial (Myers, 1999).

Acerca disso, destaca-se uma patologia do estresse, caracterizada como Transtorno de Estresse Pós-Traumático. Este transtorno ocorre freqüentemente logo após o indivíduo ter vivenciado um evento traumático, como um assalto relâmpago, a perda de um ente querido, catástrofes naturais, agressões, estupros e acidentes sérios como, por exemplo, acidentes automobilísticos, incêndios em casas e edifícios, entre diversas outras situações, porém não é regra que todas as pessoas irão sofrer desse transtorno após terem vivenciado tais situações, irá variar de indivíduo para indivíduo (Lima & Soares, 2003).

Por não existirem indicadores claros de quais são os indivíduos que irão apresentar o estresse pós-traumático, estratégias de prevenção logo após o evento considerado traumático devem ser providenciadas a fim de evitar que o indivíduo o desenvolva como optar por uma psicoterapia (Lima & Soares, 2003).



Definição de Trauma

Trauma, em sua raiz etimológica grega, significa lesão causada por um agente externo, esse conceito acabou migrando para a psicologia e conseqüentemente infere-se que a ocorrência do trauma se dá por meio da transgressão das defesas psicológicas. A maneira como as pessoas processam o evento estressante após sua ocorrência pode ser determinante para que o trauma seja configurado ou não. A caracterização de um evento como traumático não depende somente do estímulo estressor, mas entre outros fatores, da tendência do processamento perceptual do indivíduo, neste aspecto entram fatores fisiológicos e de estrutura de personalidade (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

A busca em compreender as respostas ao trauma está voltada também para os fatores ambientais a contribuição da personalidade. Pesquisas indicam que os indivíduos com sentimentos de insegurança, falta de controle pessoal e alienação aos outros são os mais prováveis a vivenciar sintomas de transtorno de estresse pós-traumático subseqüentes à exposição a eventos traumáticos, pessoas que são incapazes de confiar nos outros, são sensíveis à rejeição, sentem-se facilmente feridas e possuem dificuldade em fazer amigos, estes experimentam os níveis mais elevados de sofrimento que seguem a um evento potencialmente traumático (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

Ainda de acordo com os autores, evidências sugerem que indivíduos que possuem uma personalidade com traço de ousadia estão mais protegidos quando expostos ao estresse extremo, ousadia esta que possui três dimensões: a motivação de encontrar sentido na vida diária, a crença de que se pode influenciar o entorno, os resultados dos eventos e a opinião de que se pode aprender e crescer a partir das experiências positivas e negativas. Esses aspectos predispõem à confiança, ao suporte social e à superação das adversidades, facilitando o manejo do estresse da experiência.

O aspecto principal de como o indivíduo desenvolve a resiliência, ou seja, desenvolve a capacidade de vencer as dificuldades, os obstáculos, por mais fortes e traumáticos que eles sejam está em como estes indivíduos percebem sua capacidade de lidar com os eventos e controlar seus resultados. A percepção de si mesmo e os diálogos internos após a ocorrência do evento traumático são preditores de resultados psicológicos satisfatórios ou não. Os diálogos internos de autopiedade, desamparo, autovitimização e autodepreciação podem realçar as emoções negativas relacionadas à memória traumática e exacerbar o sofrimento psicológico. As pessoas que cultivam diálogos internos de enfrentamento, procurando modificar o presente positivamente, superam com maior facilidade traumas psicológicos (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

Por intermédio dos escritos sobre exposições traumáticas, histeria e neurose de guerra, Freud descreve trauma como despreparo do sujeito em absorver ou integrar uma excitação pertencente ao universo psicossexual. O despreparo ativa o efeito traumático após a introdução nociva do agente causador. Para Freud o período de tempo entre o acidente e a primeira aparição do sintoma é chamado de "período de incubação". Por exemplo, uma menina de oito anos é bolinada pelo vendedor de balas ao passar, excitado, as mãos sobre a genitália dela. Somente aos 12 anos, ou seja, na entrada da adolescência, assistiremos nela uma reação: uma angústia ao se encontrar, na rua, nas proximidades de lojas. Isto se desenvolve, no decorrer da vida desta paciente, num quadro misto de depressão, fobia e ansiedade, disto, o efeito traumático advém quando o sujeito fica suscetível, sexualmente à compreensão do sentido que ataque abriga (Meshulam-Werebe, Andrade & Delouya, 2003).

A sexualidade gera inicialmente uma angústia como estágio primeiro de sua integração no mundo psíquico. Freud entendeu mais tarde que a ansiedade ou medo pertence ao sistema de alerta do ego, funcionando como um sinal diante de um perigo interno ou externo. O segundo grupo de reações pós-traumáticas é o decorrente de situações de impacto em meio às situações de acidentes e guerras. Nessas circunstâncias alguns sujeitos, participantes do evento, passam por um abalo físico inicial que se apaga da sua memória para que logo fiquem desconexos efetivamente do impacto: não sentem nada, nem dor, pânico ou medo, mas agem mecanicamente ou perambulam desorientados (Meshulam-Werebe, Andrade & Delouya, 2003).

Ainda de acordo com os autores as reações esperadas reaparecem somente depois, após anos às vezes, em forma de inibições e restrições funcionais acompanhadas de ansiedade, fobias e visões alucinatórias associadas aos acidentes. Segundo Freud, o acidente estimula uma quantidade efetiva de instinto sexual que deveria acionar o sistema de alerta, de angústia-sinal, em forma de dor. Mas nesses sujeitos, a excitação sexual à semelhança de um vírus irreconhecível pelo sistema imune, escapa ao sistema de alerta, ficando fora dela. O aparelho psíquico recorrerá, então, a um sistema primitivo que tenta inserir o estímulo gerado, como se fora uma insistência, de compulsão pela repetição, que operaria, então de forma masoquista sobre o ego, por exemplo, no retorno coercitivo de imagens violentas dos acidentes, até tornarem-se pesadelos e provocarem angústias e inibições.

Do ponto de vista psicanalítico estrutural, pode-se dizer que a neurose torna-se possível por um conflito: na neurose de guerra o conflito seria entre o ego pacífico e um ego belicoso, que o repudia. O ego pacífico protege-se de um perigo mortal, defendendo-se de um ego bélico e assim protegendo-se em uma neurose traumática, que por sinal é nesta neurose que o perigo ocorre nas experiências assutadoras ou nos graves acidentes, ou seja, há também o real perigo externo, porém é muito improvável que uma neurose ocorresse somente por um real perigo mortal, sem a participação de estados inconscientes mais profundos do aparelho anímico (Meshulam-Werebe, Andrade & Delouya, 2003).



Transtorno de Estresse Pós-Traumático

A principal característica apresentada pelos indivíduos que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático é a reexperiência do trauma a dos sonhos e pensamentos em vigília, conhecido também como flash back, ou seja, constantemente cenas do episódio ocorrido são relembradas, causando na maioria dos casos um grande desconforto e acarretando sintomas físicos, como tremores, crises de choro e ainda um quadro de depressão é bastante comum de ser desenvolvido (Bueno, Nardi & Nunes Filho, 1996)

Outras duas características de pessoas que apresentam o quadro de transtorno de estresse pós-traumático é o torpor emocional para outras experiências e relacionamentos de vida, ou seja, indivíduos com esse transtorno demonstram um comportamento de embotamento, fica mais quietos, relacionar-se com outras pessoas passa a ser algo sem muita importância, sintomas de instabilidade autonômica também podem ser identificados, como por exemplo, respiração ofegante, alterações dos batimentos cardíacos, entre outros sintomas e ainda dificuldades cognitivas, como a fraca concentração (Grebb, Kaplan & Sadock, 1997).

A prevalência do transtorno de estresse pós-traumático na população em geral é de 0,5% para homens e 1,2% para mulheres, sendo que as crianças também não estão livres de o desenvolverem. Após um desastre devastador, 50% a 80% dos sobreviventes podem desenvolver o transtorno (Grebb, Kaplan & Sadock, 1997).

O trauma para os homens geralmente envolve a experiência de combate, já no caso das mulheres o trauma frequentemente está ligado à agressão ou estupro. Embora o transtorno de estresse pós-traumático possa aparecer em qualquer idade em função a natureza das situações desencadeantes, ele tem maior prevalência entre adultos jovens (Grebb, Kaplan & Sadock, 1997).

Indivíduos com transtorno de estresse pós-traumático se queixam de acentuada diminuição do interesse ou da participação em atividades anteriormente prazerosas, sentem-se deslocados ou afastados de outras pessoas e relatam ainda uma capacidade acentuadamente reduzida de sentir emoções, especialmente aquelas associadas com intimidade, ternura e sexualidade, é comum também experimentarem um sentimento de futuro abreviado, por exemplo, não espera mais que irá casar ou ter filhos, desenvolver uma carreira. (APA, 1995).

O evento traumático pode ser revivido de várias maneiras, geralmente as pessoas têm recordações recorrentes e intrusivas do evento ou sonhos aflitivos também recorrentes, durante os quais o evento é revivido pelo indivíduo, a ponto de lhe parecer real, o que lhe causa intenso sofrimento psicológico e desconforto físico, assim como quando essa pessoa é exposta a eventos ativadores que lembram ou simbolizam um aspecto traumático, como passar pela rua onde ocorreu um trágico acidente de carro e que ela esteve envolvida (APA, 1995).

A probabilidade do desenvolvimento do estresse pós-traumático é em função das variáveis do trauma, por exemplo, o envolvimento pessoal no episódio traumático, as características do evento, se ele ocorreu naturalmente ou teve causas humanas, o grau de exposição ao evento e quais foram as suas conseqüências na vida do indivíduo e ainda de acordo com detalhes específicos da personalidade de cada indivíduo, como status socioeconômico, forma de encarar os problemas, e ainda o nível e a qualidade de apoio social recebido (Lima & Soares 2003).

Indivíduos que sofrem de transtorno de estresse pós-traumático evitam qualquer tipo de estímulo associado ao trauma, em geral fazem esforços deliberados no sentido de evitar pensamentos, sentimentos ou conversas sobre o evento traumático, atividades, situações e até mesmo pessoas que os façam recordar de alguma maneira o fato ocorrido. Esta esquiva de determinados lembretes do trauma pode incluir um quadro de amnésia para um aspecto importante do evento traumático (APA, 1995).

Quanto mais grave for o estressor, mais pessoas apresentarão a síndrome e o transtorno será ainda mais grave, quando o trauma é considerado leve, por exemplo, um acidente de carro sem vítimas fatais, menos dos indivíduos envolvidos no acidente desencadearão o transtorno (Grebb, Kaplan & Sadock, 1997). Para definir o início e a duração do transtorno de estresse pós-traumático podemos especificá-lo em agudo, que é quando o conjunto de sintomas é inferior a 3 meses, crônico, no caso dos sintomas durarem 3 meses ou mais e ainda como com início tardio, em que pelo menos 6 meses decorrem entre o evento traumático e o início dos sintomas (APA, 1995).

É comum que o transtorno de estresse pós-traumático dure por cerca de no máximo até 06 meses após o fato desencadeante ter ocorrido, sendo que na maioria dos casos a recuperação é observada com sucesso após algumas sessões de psicoterapia e em alguns casos o uso de medicamentos (Bueno, Nardi & Nunes Filho, 1996).



Tratamento Farmacológico x Psicológico

Os sintomas do transtorno de estresse pós-traumático representam respostas biológicas e psicológicas a um específico agente estressor. As diversas apresentações de sintomas desse transtorno e sua grande quantidade de sistemas neurobiológicos que podem ser afetados representam um intenso desafio para as pesquisas de um efetivo tratamento psicofarmacológico, desta forma duas categorias de sintomas alvo respondem aos medicamentos: sintomas nucleares e sintomas secundários. Os sintomas nucleares são os sintomas que definem o transtorno: reexperimentação intrusiva do trauma, esquiva de estímulos que o indivíduo acredita que possa causar essa reexperimentação, ansiedade generalizada e excitação exagerada, já os sintomas secundários incluem disfunção ocupacional, vocacional e social, baixa resistência ao estresse e condições de comorbidade, como desenvolver um quadro depressivo (Bernik, Laranjeiras & Corregiari, 2003).

As medicações podem ter diferentes papéis no tratamento, tais como regular a resposta ao estresse e permitir ao indivíduo um retorno às suas atividades de vida normal, permitir uma melhor resolução da experiência traumática. Em conjunto com o tratamento psicoterápico, controlar sintomas de ansiedade generalizada, hiperexcitação autonômica, psicoses breves, descontrole de impulsos e insônia; e evitar recaídas de condições comórbidas (Bernik, Laranjeiras & Corregiari, 2003). No caso de tratamento farmacológico do transtorno de estresse pós-traumático duas drogas são relatadas frequentemente como sendo bastante eficazes, os antidepressivos tricíclicos e os inibidores da monoamino oxidase (IMAO) (Grebb, Kaplan & Sadock, 1997).

Os antidepressivos são drogas que aumentam o tônus psíquico melhorando o humor e, conseqüentemente, melhorando a psicomotricidade de maneira global, acredita-se que o efeito antidepressivo se dê à custa de um aumento da disponibilidade de neurotransmissores no SNC, notadamente da serotonina (5-HT), da noradrenalina ou norepinefrina (NE) e da dopamina (DA). Os chamados antidepressivos Inibidores da Monoamina Oxidase (IMAO) promovem o aumento da disponibilidade da serotonina por meio da inibição dessa enzima responsável pela degradação desse neurotransmissor intracelular (Ballone, 2005).

Os objetivos do tratamento do transtorno de estresse pós-traumático estão voltados a diminuir os sintomas, prevenir complicações crônicas, como um possível desenvolvimento de problema cardíaco e reabilitação social e ocupacional, desta forma é recomendável o tratamento psicológico. A finalidade das psicoterapias aplicadas às vítimas de traumas psicológicos é atribuir gradualmente novos significados emocionais à experiência traumática passada que não ocorre mais no presente. A ciência psicológica tem dado maior atenção às terapias de exposição imaginária para a reestruturação cognitiva de eventos passados sob uma nova perspectiva de compreensão e aprendizagem, desta forma o componente essencial do tratamento de exposição envolve repetidos confrontos com as memórias do estressor traumático (exposição imaginária) (Peres, Mercante & Nasello, 2005).

O psicoterapeuta pode ajudar o paciente a tornar-se consciente do "lugar/papel" comum ocupado em diferentes enredos emocionais passados. Essa consciência viabiliza a escolha de novas atuações saudáveis no presente contexto de vida. Quando a memória traumática estiver estruturada, consideramos importante que os psicoterapeutas percebam e trabalhem as dinâmicas psicológicas com seus pacientes. A desarticulação das dinâmicas patológicas se processa com o fortalecimento gradual de novos diálogos internos resilientes. Quando dinâmicas de autovitimização ou autopiedade são repetidas no discurso do paciente, o terapeuta pode questionar se o mesmo discurso está contido na narrativa da memória traumática. Se um "lugar" específico é ocupado em diversas histórias emocionais passadas, então a mesma dinâmica pode estar presente na dificuldade atual do paciente. A psicoterapia pode, assim, trazer padrões previamente inconscientes de comportamento à luz da consciência. As redecisões cognitivas baseadas no repertório resiliente do indivíduo podem promover a construção de novos diálogos internos, sentimentos e comportamentos mais saudáveis (Peres, Mercante & Nasello, 2005).



Considerações Finais

O objetivo do presente trabalho foi o de conceituar o estresse, assim o Transtorno de Estresse Pós-Traumático e as principais formas de tratamento, ou seja, a farmacoterapia e a psicoterapia.

A saúde pode ser considerada como um estado pleno de bem-estar físico, psicológico e social. A psicologia, nesse sentido, volta-se para os aspectos psicológicos da saúde no decorrer da vida de uma pessoa, não como variáveis isoladas, mas esfera da vida interdependente e que se influenciam mutuamente.

Espera-se, a partir desse breve estudo teórico, que outras pesquisas sejam realizadas com o objetivo de entender a natureza e a extensão da contribuição dos psicólogos para a investigação básica e aplicada sobre os aspectos emocionais nas doenças físicas e na manutenção da saúde. O estudo do Estresse, por envolver inúmeros aspectos em sua determinação e por afetar milhares de pessoas, pode ser um bom começo.





REFERÊNCIAS

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Publicado em 26/08/2010 11:16:00 http://www.psicopedagogia.com.br/artigos

Cláudio Garcia Capitão, Carolina Lucena Torres e Renata Estanislau Silva - Cláudio Garcia Capitão: psicólogo, especialista em Psicologia Clínica e em Psicologia Hospitalar, Mestre em Psicologia Clínica pela PUCSP, Doutor pela UNICAMP, com Pós-doutorado em psicologia clínica pela PUCSP. Docente da Universidade São Francisco.

Carolina Lucena Torres: psicóloga, formada pela Universidade Braz Cubas. Email: carolina.torres@niken.com.br

Renata Estanislau Silva: psicóloga, formada pela Universidade Braz Cubas. Email: restanislau1@yahoo.com.br

PSICANÁLISE, RELIGIOSIDADE E ESPIRITUALIDADE : APROXIMAÇÕES

Cláudio Garcia Capitão, Edmilson dos Santos Tiburcio e Sérgio José de Moura


Psicanálise, religiosidade e espiritualidade: aproximações Psychoanalysis, religiosity and spirituality: approaches





Resumo

A influência da espiritualidade, da religião e religiosidade na melhor recuperação perante as práticas curativas e terapêuticas têm se tornado cada vez mais claro para a ciência. Muitos profissionais da área psiquiatria e psicólogos têm buscado incluir ou considerar a mesma como fator importante na saúde dos indivíduos. O respeito perante a as formas religiosas e de fé começa a ser estabelecido na prática médica diária. A doença permanece como entidade de abrangente impacto, desde a fisiopatologia básica até sua complexa relação social, psíquica e econômica. A espiritualidade, a despeito de seu freqüente paralelo com a religião, historicamente tem sido ponto de satisfação e conforto para momentos diversos da vida, bem como motivo de discórdia, fanatismo e violentos confrontos. Compreender todos esses vários aspectos se torna importante para considerar e diferenciar a prática saudável da espiritualidade e da religiosidade.

Palavras-chave: Espiritualidade; Psicanálise; Religião; Religiosidade.



Abstract

The influence of spirituality, religion and religiosity in better recovery before the healing practices and therapies have become increasingly clear to science. Many professionals in psychiatry and psychologists have sought to include or consider it as an important factor in the health of individuals. The respect towards the religious forms and faith begins to be established in daily medical practice. The disease remains an entity of comprehensive impact, since the basic pathphysiology its complex relationship to social, psychological and economic. Spirituality, despite its frequent parallel with religion, has historically been a point of satisfaction and comfort for different times of life, as well as a bone of contention, fanaticism and violent clashes. Understand all these various important aspects to consider and differentiate the healthy practice of spirituality and religiosity.

Keywords: Spirituality; Psychoanalysis; Religion; Religiosity.



Ao longo da história, os conceitos de espiritualidade e religiosidade sempre causaram grandes discussões no meio acadêmico e cientifico. Discussão esta que em meados do ano de 2008 e inicio de 2009 tornou-se mais conhecida entre os leigos em geral, pois os meios de comunicação em massa, especialmente revistas, publicaram matérias referindo-se ao tema. Estas revistas abordaram temas relevantes à saúde mental, em que pessoas buscavam a obtenção de ajuda de uma força maior, algo divino, que lhes dessem forças para continuar a viver.

A influência da espiritualidade e da religião na melhor recuperação de pacientes têm se tornado tema de investigação para a ciência. Psiquiatras e psicólogos desenvolvem pesquisas para verificar se a religiosidade ou a fé em alguma religião exercem influências na recuperação da saúde das pessoas.

A espiritualidade, a despeito de seu freqüente imbricar com a religião, historicamente tem sido ponto de satisfação e conforto para momentos diversos da vida, bem como motivo de discórdia, fanatismo e violentos confrontos. Compreender esses aspectos torna-se importante para poder diferenciar entre a prática saudável da espiritualidade e da religiosidade, pois os profissionais da área de saúde, muitas vezes por não conseguir diferenciar tais aspectos, acabam por desconsiderar algo que pode influenciar de forma contundente os diversos tratamentos.

A Religião tem sido definida de modo distinto de sua origem etimológica (Religare, de religar), sendo mais a palavra utilizada no sentido de se denominar um sistema determinado de representação de crenças e dogmas pelo qual uma pessoa busca modelar sua existência, compartilhando crenças e doutrinas institucionais. Por sua vez, a religiosidade ou espiritualidade poder ser definida como a relação mantida por um dado indivíduo perante o Absoluto e o Sagrado, de modo singular e pessoal. (Genaro Junior, 2008).

Dessa forma, pode-se afirmar que nem sempre a religião de alguém reporta realmente a um sentido espiritual. Richardson (1999) alerta que a leitura do analista de conteúdo não é apenas uma leitura ao pé da letra, mas um trabalho em nível mais aprofundado. Trata-se de obter significados de natureza psicológica, sociológica e histórica.

Ao longo do tempo o conceito de loucura modificou-se. Na Grécia a loucura era estudada como doença orgânica. Durante a era cristã a loucura foi considerada como possessão relacionada à religiosidade. Os que não praticavam o cristianismo eram facilmente dominados e possuídos pelos demônios, que causavam tempestades no corpo, fazendo surgir às dores e as doenças (Macedo & Jorge, 2002).

No renascimento, por motivos econômicos, o louco foi considerado improdutivo ou criminoso, excluído, por essa razão, da sociedade. A partir da metade do século XVII, criaram-se hospitais e refúgios de internamentos. Esses locais ofereciam alojamentos e alimentação para aqueles que se apresentavam espontaneamente ou para aqueles que eram encaminhados pelas autoridades judiciárias ou reais (Tommasi, 2005).

No final do século XVIII, no Iluminismo, o chamado tratamento moral, proposto por Pinel (1745- 1826), transformou o trabalho como parte do tratamento asilar. Para Pinel o trabalho assegurava e garantia a manutenção da saúde, dos bons costumes e da ordem (Lima, 1999).

No século XIX a percepção da loucura foi acompanhada do reconhecimento de observadores, e passa a ser entendida não como a ruptura com a humanidade, mas algo cuja verdade se esconde no interior da subjetividade humana (Macedo & Jorge, 2000).

Desde o Iluminismo, os intelectuais livres, de um modo geral, mantiveram uma atitude de desprezo perante qualquer aspecto de religiosidade ou espiritualidade. As experiências místicas, em especial de cunho cristão, eram vistas não raras vezes como manifestações de transtorno psíquico, já que entendiam que por trás de tais experiências haveria vários sinais que demonstrariam a existência de psicopatologias as mais diversas (Gastaud, Souza & cols., 2006).

Isso se mostra bastante patente em livros como O Anticristo (1888/2002), de Friedrich Nietsche, que se utiliza de toda sua eloqüência e paixão para atacar os vários aspectos do Cristianismo, que era por ele considerado uma das piores criações da humanidade, causa da decadência dos melhores valores e instintos europeus (ou humanos). O pensador considerava que o Cristianismo tornava os homens fracos, e que todos os métodos cristãos eram formas de enlouquecer os seres humanos, pois se colocavam contra a natureza e os bons instintos.

Freud (1931/1990)considerava que as questões que atraem as pessoas para a religião, como a imortalidade, o castigo e a vida após a morte, eram puros reflexos da psique mais profunda. Para o autor, a religião era apenas a manifestação remanescente de nosso medo e identificação infantil com nossos pais, uma neurose obsessiva universal. Por essa razão, o desenvolvimento psíquico fatalmente levaria ao afastamento da religião

Porém, segundo Costa (2009), Freud, apesar de toda a sua crítica perante a religião, às vezes, por meio de frases consideradas pelo autor como provenientes de atos falhos, parecia ser um pouco mais favorável para com a mesma. Em Moisés e o Monoteísmo (1939/1990), observa-se a afirmação de que a religião mosaica teria procurado por intermédio da interdição da representação de Deus por imagens, o desenvolvimento mental e o início da valorização da palavra e do pensamento, pois o mesmo não poderia mais ser idolificado ou denominado conforme as qualidades e defeitos humano, o que faria com que as percepções sensoriais e os sentidos fossem colocados em segundo plano.

Apesar de todas essas considerações, muitas vezes Freud preferia até mesmo contrariar sua teoria, a defender a manifestação religiosa. Segundo Costa (2009) isso ocorria devido a seus sentimentos de compaixão perante o diferente, pois compreendia que a Institucionalização da Religião havia provocado boa parte das guerras. Não se pode esquecer que Freud era judeu, e que muito da justificação da perseguição feita ao seu povo era devido a ideologias de cunho religioso.

As coisas começaram a mudar nos Estados Unidos da América, onde Willian James começou a se interessar profundamente pelas experiências místicas e religiosas, e os estados alterados de consciência, pois via neles um caminho para compreender o desenvolvimento pessoal (Fadiman & Frazer, 1986).

Outro pensador da Psicologia que demonstrou interesse e quase fascínio para os fenômenos da Espiritualidade e da Religiosidade foi Carl Gustav Jung (1875 – 1961). Sua obra apresenta os símbolos religiosos com pontos essenciais para se compreender o desenvolvimento da personalidade e da própria formação psíquica. Considerava a busca religiosa e espiritual um modo interessante de investigação da Psique mais profunda de uma pessoa e do seu grau de maturidade (Fadiman & Frazer, 1986).

A partir da influência de Freud na psiquiatria e na psicologia, e de Stanley Hall na psicologia, os psiquiatras até os anos de 1990 desqualificavam a religião como um todo. Por outro lado, a partir do final do século XX, o interesse das ciências da Saúde modificou-se. Repentinamente pesquisas começaram a buscar provas da importância das práticas religiosas como fator de bem-estar físico e mental, e como poderia auxiliar as pessoas a superar vários problemas psíquicos, inclusive o estresse e a depressão (Koenig, 2006).

Grande parcela da literatura vem apontando que fatores religiosos podem atuar como fonte de resistência no enfrentamento das doenças. Pesquisas baseadas em Questionários e com certa visão Comportamental Cognitiva sugerem que a religiosidade pode ser algo bastante benéfico para a prevenção da saúde (Gonçalves, 2004).

Mas há de se considerar primeiramente que há uma diferença entre a religiosidade saudável e não saudável. A religiosidade não-patológica é aquela que pode enriquecer o indivíduo com o passar do tempo, além de não prejudicar e corromper a vida da pessoa. É, por assim dizer, a percepção clara e consciente da experiência religiosa, sem que ocorra da perda da noção e crítica da realidade. No entanto, reconhecer os limites da religiosidade patológica da não-patológica não é uma coisa tão simples (Koenig, 2006).

Vários autores preferem considerar que a própria busca de sentido tem um caráter religioso, postulando, dessa maneira, como parta da natureza humana a experiência religiosa e espiritual. Outros, por sua vez, preocupam-se mais com seus aspectos culturais e sociais. Considera-se o fenômeno religioso como contendo gradações distintas de desenvolvimento, da mais primitiva às mais evoluídas, em que as últimas contribuem para a manutenção da saúde ou para a sua recuperação (Genaro Junior, 2008).

A crença insere a pessoa em um conjunto de dogmas e conceitos de representação; enquanto a fé abarca dimensões maiores de envolvimento, impelindo coragem, entrega e confiança perante o novo e desconhecido (Safra, 1999). Em termos winnicottianos, a fé revelaria um real saber adquirido, enquanto a crença estaria mais ligada ao campo do conhecer ou ao contato superficial. Em muitos casos, a busca religiosa é uma maneira de buscar não somente de conseguir alívio, mas também de organização da personalidade (Genaro Junior, 2008).

O trabalho de Soreio, Colombo e cols. (2008), de base estatística, demonstra que as oscilações entre fraca religiosidade e religiosidade exacerbada são prováveis manifestações de transtornos mentais, especialmente do humor.

Gonçalves (2004), em seu estudo, aponta para a importância da religiosidade na recuperação de pessoas com depressão, que acometem pacientes pós-cirúrgicos de neoplasia mamária. Também denota que a depressão pode ser agravada devido ao fato das pacientes sentirem-se lesadas em relação ao seu corpo e feminilidade.

O Transtorno Depressivo pode ser caracterizado pelas seguintes características sintomáticas: humor deprimido, perda de interesse de prazer, fatigabilidade aumentada e atividade diminuída, concentração e atenção reduzidas, auto-estima e autoconfiança diminuídas, idéias de culpabilidade e sentimento de desvalia, idéias autolesivas, suicídios, sono perturbado e diminuição do apetite, que nos casos mais acentuados transparece tanto na mímica como na sua atitude em geral (Fenichel, 1997).

A religiosidade e o apoio religioso podem, nesses casos, fortalecer a esperança e desenvolver potenciais e capacidades de superação (Peres, Simão & Nazello. Caso contrário, ver-se-ia, pela condição da depressão, apenas a intensificação do sentimento de impotência e temor, além de sentimentos de culpa desenvolvidos pelo indivíduo como formação reativa mortificante (Laplanche & Pontalis, 1999).



Considerações finais:

Buscou-se no presente trabalho abster-se de julgamentos e visões pré - concebidas a respeito da religiosidade e da espiritualidade. A religiosidade deve ser diferenciada da instituição religiosa, ou religião; existe a religiosidade tanto patológica (que provocariam distúrbios, principalmente de ordem psíquica) e a religiosidade não-patológica; os motivos para a prática religiosa podem estar presentes tanto em termos existenciais como mentais. A maneira como a religiosidade é vivenciada pode contribuir para a recuperação do estado de saúde.

A compreensão do fenômeno da religiosidade deve ocorrer por meios de pesquisas tanto qualitativas como quantitativas, por todos os campos da ciência, além, é claro, dos saberes filosóficos e teológicos. Ao contrário do que se poderia pensar, a religiosidade ainda é algo marcante e presente na vida das pessoas, mesmo na pós-modernidade.

Parafraseando Jung, mesmo que Deus não exista só a nossa crença Nele já faz com que Ele nos influencie. A crença, nesse sentido, mantém e garante a representação religiosa ao longo dos dias. A ciência psicológica lida com os fenômenos que envolvem a natureza objetiva e subjetiva da pessoa. O fenômeno religioso dela faz parte como um belo campo de pesquisa.





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Publicado em 20/07/2010 17:02:00 http://www.psicopedagogia.com.br/artigos



Cláudio Garcia Capitão, Edmilson dos Santos Tiburcio e Sérgio José de Moura -



Cláudio Garcia Capitão: especialista em Psicologia Clínica e em Hospitalar, Mestre em Psicologia Clínica PUCSP, Doutor pela UNICAMP com Pós-Doutorado em Psicologia Clínica pela PUCSP, Docente da Universidade São Francisco.

Sérgio José de Moura: Psicólogo Clínico de orientação psicanalítica. Atualmente atende adolescentes e adultos em consultório particular. Atua junto aos sindicatos, Sindserv de Ilhabela e Sindicato dos Bancários do Vale do Paraíba e Litoral Norte SP. Psicólogo voluntário nas catástrofes naturais, “Psi-Voluntarios”, sjmoura_psi@hotmail.com.

Edmilson dos Santos Tiburcio: Psicólogo, Membro do Grupo de Estudos em Saúde Mental, membro idealizador da revitalização da Abrapso de Mogi das Cruzes, Integrante do Grupo do Cinemanálise